O Brasil está nos marcos de 60 anos do início de um capítulo sombrio. O Golpe Civil-Militar de março-abril de 1964 inaugurou um período de terror de Estado, fim das liberdades civis, repressão, mortes e desaparecimentos, muitos até hoje sem desfecho. As ameaças de golpe rondam nossa pátria e, como sinaliza a canção, “é preciso estar atento e forte” na defesa contínua da Democracia. Esta é uma missão primordial dos Comitês populares.

Apesar de inúmeros avanços, ainda há muito a ser trilhado no estabelecimento de uma real democracia de base popular. A luta popular aponta para a defesa intransigente da democracia nos marcos da Constituição de 1988 e nenhuma anistia para quem intenta rupturas antidemocráticas. Neste 23/03 as ruas estarão gritando para que não se repita.

Para as conversas em seu ambiente de trabalho, Igreja, escola ou universidade, no futebol ou feira do bairro, confira e leve adiante 5 motivos pelos quais nunca esquecer para que não se repitam:

1. Ruptura institucional

A Democracia brasileira ainda é relativamente recente. Diversos golpes em diferentes contextos balançam o chão da República desde sua criação. Em 1964, mais uma interrupção tomava lugar, a partir de um conluio entre militares, empresariado e poder imperialista. O Congresso foi fechado, políticos legitimamente eleitos perseguidos e presos, mandatos interrompidos, partidos proibidos. A Democracia estava abalada.

É preciso seguir atento/a e forte!

2. Violência política – Estado terrorista

Durante 21 anos o Brasil viveu uma ditadura civil-militar que deixou um saldo de 437 mortos e desaparecidos, além de 6.591 militares perseguidos pelo regime, segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregue em 2014. Houve tortura regular, assassinatos, ocultação de cadáveres, execuções e tudo passou a ser natural.

Chorou a nossa pátria mãe gentil

Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil

3. Economia dependente e dívida

Ao contrário do que se propagandeou como “milagre econômico”, o regime militar deixou como herança uma dívida externa que permaneceu impagável ao longo de muitos anos. Ao final de 1984, último ano completo sob a ditadura, o Brasil devia a governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% de seu Produto Interno Bruto. Em valores atuais, seria como se o Brasil devesse US$ 1,2 trilhão.

Você (EUA!) era quem mandava, falou tá falado!

4. Censura 

Foi instaurado um regime de censura a toda produção cultural e artística, com leitura prévia de tudo que iria ser lançado e diversas proibições a letras e poesias, livros e demais publicações entre 1964 e 1985. A imprensa livre foi um dos grandes alvos cotidianos e canções como Opinião (Zé Keti), Pra não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré) e Apesar de você (Chico Buarque) foram impedidas de serem lançadas.

Afasta de nós este Cálice!

5. Mortes invisíveis no campo 

Dados recentes dão conta que uma verdadeira limpeza era feita também nos rincões do país, com a morte e desaparecimento de milhares de camponeses e indígenas. ao menos 8.350 indígenas foram mortos em massacres, esbulho de suas terras, remoções forçadas de seus territórios, contágio por doenças infecto-contagiosas, prisões, torturas e maus tratos. Muitos sofreram tentativas de extermínio. Ao se observar os camponeses, no período da ditadura, foram 1.654 mortos e desaparecidos. Todos esses crimes estavam ligados à resistência camponesa e à luta pela terra.

Quem não vacila mesmo derrotado

Quem já perdido nunca desespera

E envolto em tempestade, decepado

Entre os dentes segura a primavera

Primavera nos Dentes (Secos e Molhados)