O Comitê Popular de Luta em Defesa da Caixa completou dois anos no último dia 9 de março com uma história que apesar de recente, acumula importantes vitórias para a Caixa e ações cujo impacto contribuiu com o Brasil.

Para contar como surgiram os Comitês Populares de Luta e falar sobre o futuro desse trabalho conversamos com Igor Felipe dos Santos, um dos idealizadores e atual participante da coordenação dos Comitês Populares de Luta.

Quando e como começaram os Comitês Populares de Luta?
A primeira fase dos Comitês Populares se deu em torno da campanha Lula Livre. Quando o Lula foi preso, uma parte da militância queria realizar ações e atividades, iniciativas em defesa da liberdade do presidente Lula. Eram militantes das diversas organizações, diversos
sindicatos, diversos movimentos e diversos partidos políticos que se reuniam no seu território, no seu local de trabalho, no seu local de estudo, para realizar essas atividades. Foi daí que nós criamos o Comitê Nacional Lula Livre, que era um instrumento de acompanhamento, condução e coordenação do trabalho desses comitês populares.

A luta aconteceu, nós realizamos diversos mutirões, festivais, atividades de agitação, faixaços, panfletagens. O Lula foi solto e a partir desse momento, nós tínhamos um acúmulo organizativo e uma experiência de organização popular.

E como o ano de 2021 se insere nessa história?
Resolvemos continuar dentro desse processo de organização dos Comitês Populares de Luta a partir dos movimentos populares, dos partidos e dos sindicatos com a perspectiva, em primeiro lugar, de manter essa organização da militância no seu local de trabalho, no seu
local de estudo, no seu território, local de moradia.

Mas tendo também como perspectiva as eleições que aconteceriam em 2022, que na nossa avaliação seriam eleições muito duras, em que o Bolsonaro colocaria muito dinheiro, muita força e utilizaria todos os organismos de Estado para buscar a sua reeleição. Dessa forma
era necessário continuar e aprofundar e ampliar esse processo de organização popular.

Nós mantivemos esse processo de organização dos comitês e avançamos, chegando a organizar em torno de 5 mil comitês em todo o País. Nos nossos levantamentos, a gente acha que mais de 8 mil comitês se formaram nesse processo, e nós temos feito desde então um processo de acompanhamento, de suporte e de condução a partir da proposta de atividades, ações, para manter essa reunião da militância e essas atividades.

E qual o papel dos Comitês após as eleições de 2022?
Desde então nós temos mantido esse processo de organização dos comitês populares e temos muitas experiências. A gente sabe que muitos comitês se formam, depois perdem intensidade, outros que conseguem manter algum nível de atividade, mas uma intensidade menor, e outros que conseguem manter um ritmo de organização e de ação.

Qual o futuro dos comitês populares de luta que resistem?
Nós queremos iniciar uma nova fase dos comitês populares, que tem como objetivo, sobretudo, fortalecer o governo Lula para que ele possa implementar o programa de mudanças sociais que foi apresentado nas eleições.

A gente vê que é uma correlação de forças bastante desfavorável, especialmente pelas pressões do grande capital contra as mudanças na economia. E também pela pressão da direita e do centrão dentro do Congresso Nacional para bloquear, impedir e obstruir os projetos e iniciativas do governo. Também queremos fazer frente às iniciativas da extrema-direita, ainda sob liderança do Bolsonaro, para colocar na agenda da sociedade uma pauta ultraconservadora e ultraneoliberal que representa o retrocesso dos direitos.

Para este ano, 2024, quais as principais metas da coordenação dos Comitês?
Nós esperamos, e estamos nos organizando, para em 2024 conseguir desenvolver uma série de campanhas. Contra a fome, contra a pobreza e contra a desigualdade, em defesa de uma reforma tributária justa com igualdade social e, sobretudo, fortalecendo os comitês
populares que estão enraizados em determinados territórios, em determinadas categorias, para que eles possam desenvolver as suas diversas iniciativas. E temos como perspectiva também para o segundo semestre apoiar e dar sustentação para as candidaturas a vereador
e prefeito do campo democrático popular.

Mesmo muito diversos, é possível sintetizar o que são os Comitês?
Os comitês para nós são uma metodologia de organização da militância para que ela possa, na sua área de atuação, organizar as diversas atividades em defesa do projeto popular para o Brasil e em defesa dos direitos da classe trabalhadora. Eles são compostos por diversos partidos, movimentos e sindicatos, e são adequados para esse momento que a gente precisa de unidade de ação para conseguir enfrentar esses desafios.

Recentemente o bolsonarismo realizou um grande ato. Os Comitês Populares de Luta são
um antídoto contra esse tipo de manifestação?
O objetivo dos Comitês Populares é, sobretudo, criar ações, iniciativas e jornadas que possam disputar a classe trabalhadora. O que a gente vê é que a extrema-direita tem buscado incidir sobre a classe trabalhadora, especialmente a partir das igrejas fundamentalistas e também da ideologia da violência a partir dos aparatos de repressão, de de trabalho, no seu local de estudo, no seu local de lazer e fazer o debate a partir da realidade daquelas comunidades.

É necessário dar um mergulho na realidade da classe trabalhadora e debater a partir dos seus valores, das suas ideias e dos seus anseios. E nós acreditamos que os comitês populares são um instrumento que vem a contribuir e fortalecer esse processo de retomada do trabalho popular, que é fundamental para que a gente possa enfrentar a extrema-direita, combater a direita tradicional e impulsionar o governo Lula.

Como avalia esses três anos do Comitê Popular em Defesa da Caixa?
Eu acho que em primeiro lugar, a experiência do Comitê de Luta da Caixa é exemplar. Conseguiu identificar um problema concreto que a categoria vivenciava; fortaleceu os seus laços e permitiu que a categoria, a partir da confiança nesse trabalho, pudesse ouvir e
desenvolver as diversas tarefas necessárias. E daí vem depois essa plataforma política que foi sistematizada a partir da consulta à categoria e entregue em formato de documento ao presidente Lula.

Por fim, que outros trabalhos vêm sendo desenvolvidos por outros Comitês?
Nós temos diversas experiências como essas. Nós temos, por exemplo, aqui em São Paulo, uma experiência do Comitê Popular do Centro, que tem desenvolvido uma série de ações no centro de São Paulo, desde ações culturais, como a criação de um bloco de carnaval, como
ações de panfletagem, de colagem de lambe-lambe. Também tem buscado incidir, disputar a comunidade do bairro, uma articulação com os bares progressistas, que tem uma agenda e uma pauta em relação à vida no centro, seja iluminação, seja limpeza urbana, seja a questão da segurança pública.

Aqui na Barra Funda, também em São Paulo, há a comunidade popular, com ações de solidariedade e cozinhas populares. Temos também experiências em Pernambuco de comitês que são formados dentro do projeto Mãos Solidárias, que é de organização de cozinhas populares para garantir comida e alimentação para famílias em situação de extrema pobreza e, a partir dessa, de dar as marmitas, de garantir acesso de alimentos, fazer o debate político com a população.

Temos também um trabalho desenvolvido no Paraná, a partir do projeto Marmitas da Terra, que se dá em ocupações urbanas, na qual se organiza a doação de marmitas, e a partir da confiança e dos laços que se criam nas comunidades, a realização dos trabalhos políticos.
Temos no Rio Grande do Sul experiências também que é feita do MST junto com a CUT, um trabalho nas comunidades, a partir também de ações de solidariedade, de debate político, em categorias do movimento sindical.

Então nós temos diversas experiências, muito heterogêneas e por isso fazemos um esforço de tentar sistematizar, porque a gente acha que é importante, que isso é um exemplo, e uma inspiração para que outros coletivos de militantes possam tomar como referência e
reproduzir.

Temos apostado muito no site dos comitês populares como um espaço que a gente possa apresentar e divulgar essas experiências e acreditamos que tem muitas experiências.