Fake News Contra a Solidariedade: A Criminalização das Cozinhas Comunitárias
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Organizações com histórico de apoio a famílias de baixa renda são indevidamente apontadas como integrantes de esquema criminoso, destaca Luís Nassif.

Uma reportagem publicada no site GGN e assinada pelo jornalista Luiz Nassif expôs as falsas acusações feitas pelo jornal O Globo contra um programa federal de distribuição de marmitas para a população de baixa renda. O alvo da denúncia foi a ONG Movimento Organizacional Vencer, Educar e Realizar (Mover Helipa), presidida por Renato Varjão, que já trabalhou no gabinete do deputado Nilto Tatto (PT-SP). O Globo insinuou um esquema de corrupção no programa, impulsionando uma onda de desinformação que rapidamente se espalhou por outros veículos da grande mídia, como Jornal Nacional, Fantástico e Jornal da Band.
De acordo com Nassif, se O Globo tivesse se empenhado mais na apuração dos fatos, descobriria que a Mover Helipa foi beneficiada por emendas parlamentares de diversos deputados, sem qualquer ligação financeira com Nilto Tatto ou outros parlamentares do PT. Além disso, a ONG atuava como unidade gestora no programa, facilitando a participação de organizações menores na execução do projeto e garantindo maior transparência nos contratos públicos.
Criminalização da Solidariedade
A narrativa distorcida da grande imprensa resultou em um ataque injusto a ONGs que há anos trabalham na distribuição de alimentos em comunidades carentes. Muitas dessas organizações sequer haviam recebido um centavo do programa quando foram acusadas de integrar uma suposta quadrilha desviando dinheiro público. A primeira liberação de recursos ocorreu apenas no final de janeiro e estava depositada nas contas das entidades, sem que houvesse qualquer irregularidade comprovada.
O modelo adotado pelo programa federal, no qual uma unidade gestora coordena grupos de ONGs menores, foi tratado erroneamente como um esquema de subcontratação para desvio de verbas. O desconhecimento da realidade das cozinhas comunitárias levou a uma interpretação equivocada do funcionamento dessas iniciativas, que operam de maneira descentralizada e sem um horário comercial fixo. Muitas dessas cozinhas funcionam em casas humildes, com voluntários servindo refeições conforme a demanda da comunidade, seja no almoço, no jantar ou ao longo do dia.
Impactos da Desinformação
A reportagem de O Globo falhou ao não considerar o histórico das ONGs envolvidas. Muitas delas já participavam de programas de distribuição de cestas básicas organizados por prefeituras e governos estaduais, sem jamais terem sido acusadas de irregularidades. No entanto, a exposição negativa gerada pela grande mídia pode comprometer a continuidade de iniciativas fundamentais para o combate à fome no Brasil.
A criminalização da solidariedade não é um fenômeno isolado. Em um país onde organizações criminosas operam livremente em diversas esferas do poder, a perseguição a ONGs que atuam para suprir a ausência do Estado revela um viés preocupante no jornalismo nacional. Em vez de aprofundar a investigação e contextualizar os fatos, a grande mídia tem optado por narrativas sensacionalistas que colocam em risco o trabalho de milhares de voluntários e a segurança alimentar da população mais vulnerável.
O episódio reforça a necessidade de um jornalismo responsável e comprometido com a verdade. A luta contra a fome não pode ser tratada como um jogo político ou uma manchete de impacto. É fundamental reconhecer e valorizar o trabalho das ONGs que atuam na linha de frente desse desafio, garantindo que políticas públicas voltadas para a segurança alimentar possam cumprir seu papel sem interferências motivadas por desinformação ou interesses escusos.