Lobos Solitários, Causas Coletivas: As Conexões por Trás do Extremismo

O ataque terrorista de 8 de janeiro de 2023 foi um divisor de águas na história recente do Brasil, marcando a gravidade da articulação de setores golpistas contra a democracia. A invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília não foram atos espontâneos, mas o ápice de meses de incitação ao ódio e à violência por líderes que se recusaram a aceitar o resultado legítimo das eleições. Essa mobilização contou com o apoio velado e explícito de militares, políticos e empresários alinhados a um projeto de desestabilização institucional.

A investigação revelou redes bem estruturadas, que envolvia inclusive os membros das Forças Armadas, que planejavam não apenas os ataques de janeiro e que hoje sabemos que iam muito além do que vimos em janeiro de 2022, mas também ações subsequentes, como o atentado que vitimou Francisco Wanderley Luiz, o “Tio França”. Este crime, que se soma a outros episódios de violência política, não pode ser visto como isolado. Trata-se de uma continuidade do radicalismo fomentado pelo mesmo ambiente extremista que impulsionou o “8 de janeiro”.

As prisões de militares realizadas hoje, 19, evidenciam o comprometimento de setores das Forças Armadas com esses esquemas golpistas. As ações apontam para a participação de figuras diretamente ligadas ao núcleo duro do bolsonarismo, incluindo o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e pessoa de confiança de Jair Bolsonaro. Informações apuradas indicam que sua residência teria sido usada como local de discussões golpistas que incluíram planos de subversão institucional e até o assassinato de líderes democráticos, como o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.

Esse contexto reforça que os atos de 8 de janeiro, assim como o atentado contra “Tio França”, fazem parte de uma teia articulada de terrorismo político, na qual figuras de alta patente militar desempenham um papel central. Não são eventos isolados nem frutos de indivíduos descontrolados; são fragmentos de uma estratégia deliberada para enfraquecer a democracia e instaurar o caos.

A responsabilização dessas redes é urgente. As prisões realizadas hoje são um passo fundamental, mas ainda há muito a ser feito para desarticular completamente essas estruturas. A apuração minuciosa deve alcançar todos os envolvidos, incluindo os altos escalões que abrigaram e fomentaram essas conspirações.

Anistiar golpistas seria um erro histórico e perigoso. O Brasil já vivenciou os efeitos nocivos da Lei da Anistia de 1979, que permitiu que crimes da ditadura militar permanecessem impunes, perpetuando uma cultura de desrespeito aos direitos humanos e às instituições democráticas. O mesmo não pode se repetir agora. A justiça deve ser implacável para que o Estado reafirme seu compromisso com o Estado de Direito e evite que novos capítulos de violência e autoritarismo se repitam.

A força de uma democracia está em sua capacidade de proteger suas instituições e de punir exemplarmente aqueles que as atacam. O Brasil precisa agir com firmeza, garantindo que ninguém esteja acima da lei, especialmente aqueles que, em nome de suas funções, têm o dever de proteger a soberania e o povo, mas optaram por conspirar contra eles.

Anistiar não é reconciliação; é renunciar à justiça.