Solidariedade em Movimento: Como as Cozinhas Solidárias Transformam Comunidades na Argentina
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Organização popular e solidariedade combatem a fome e dão voz aos mais vulneráveis nas periferias de Buenos Aires.
O fim de ano é um período particularmente sensível para muitas famílias em situação de vulnerabilidade, especialmente diante de crises econômicas severas. Na Argentina, onde a inflação anual ultrapassou 166% e a pobreza atinge mais da metade da população, iniciativas como as Cozinhas Solidárias desempenham um papel essencial no combate à fome e na promoção da dignidade.
Uma resposta coletiva à crise
Segundo Paulo Pereira, coordenador do Núcleo do PT na Argentina, o impacto da crise econômica combinado com as políticas de ajuste do governo de extrema direita liderado por Javier Milei tem sido devastador. Com a redução drástica no financiamento de programas sociais, muitas cozinhas solidárias (chamadas de “comedores populares”) fecharam suas portas, deixando milhares sem acesso a uma refeição diária. Nesse cenário, a mobilização da comunidade brasileira para apoiar a Associação Civil “Abriendo Caminos”, localizada na Villa 20 — uma das maiores favelas da periferia de Buenos Aires —, foi um ato de solidariedade com enorme significado simbólico.
A inspiração que gera mais solidariedade
As Cozinhas Solidárias são um exemplo histórico de organização popular na Argentina, surgindo como resposta à grande crise de 2001. Hoje, estima-se que existam 44 mil dessas iniciativas no país, muitas delas lideradas por movimentos populares. Inspiradas nesse modelo, as Cozinhas Solidárias brasileiras ganharam força nos últimos anos. A jornada promovida pela comunidade brasileira na Argentina, em parceria com a “Abriendo Caminos”, demonstrou como a solidariedade migrante pode combater discursos de ódio e xenofobia, além de criar laços de resistência.
“Ações pequenas e pontuais no território têm um impacto simbólico imenso, especialmente quando comunidades migrantes se organizam para ajudar aqueles que mais necessitam”, afirmou Paulo Pereira.
Mobilização e engajamento para um impacto real
A organização da “Cozinha Solidária”, comandada por brasileiros, foi um exemplo de como a solidariedade coletiva pode fazer diferença. Com o custo unitário de 2.500 pesos argentinos por marmita, a iniciativa arrecadou mais de 600 mil pesos e mobilizou 20 voluntários. Em um único dia, foram entregues 250 refeições para mais de 50 famílias. Além disso, voluntários atuaram em todas as etapas do processo, desde o preparo dos alimentos até a distribuição, demonstrando a força da organização popular.
Muito mais que comida: organização comunitária
Para além da distribuição de alimentos, as Cozinhas Solidárias promovem a organização comunitária, oferecendo um espaço para reflexão e debate sobre questões estruturais, como trabalho, acesso a direitos e condições de vida. “Elas colocam os mais vulneráveis como protagonistas, trazendo à tona questões como jornadas de trabalho, remuneração e organização popular”, destacou Pereira.
A prática política na periferia
A atuação em comunidades periféricas não é apenas um ato solidário, mas também uma prática política essencial para o Núcleo do PT na Argentina. A população brasileira no país é composta majoritariamente por jovens estudantes de classe trabalhadora, muitos dos quais se engajam em atividades que conectam educação, saúde pública e direitos migratórios.
Uma próxima iniciativa em planejamento é uma jornada de atenção médica em bairros populares, em parceria com a Brigada Josué de Castro, composta por estudantes brasileiros de medicina. “Responder às demandas e dificuldades com organização popular é nossa forma de resistir aos ataques e fake news do governo Milei. Afinal, ninguém se salva sozinho”, concluiu Paulo Pereira, Coordenador do Núcleo do PT na Argentina
Solidariedade que transforma
Em tempos de crise, as Cozinhas Solidárias são um exemplo poderoso de que a solidariedade pode ser um ato político transformador. Elas não apenas combatem a fome, mas também fortalecem laços comunitários, inspiram novas iniciativas e reafirmam a importância da organização coletiva para enfrentar desafios estruturais. O trabalho realizado na Villa 20 é um testemunho de que, mesmo em cenários adversos, a solidariedade é uma ferramenta potente de mudança.
Fotos: Paulo Grangeiro | @prsgrangeiro
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