Como o filme de Walter Salles, inspirado na trajetória de Eunice Paiva, dialoga com a luta por justiça da Comissão Nacional da Verdade e os desafios contemporâneos diante do autoritarismo.

Fotos: Reprodução e Arquivo Pessoal

Ainda Estou Aqui, filme dirigido por Walter Salles, estreou nos cinemas brasileiros no início de novembro e já é aclamado pela crítica, se destacando como um dos favoritos ao Oscar de 2025. Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, a trama narra a trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro em fases distintas da vida. A matriarca enfrenta o desaparecimento do marido, Rubens Paiva, ex-deputado federal sequestrado, torturado e morto em 1971, durante a ditadura militar no Brasil. Além de abordar a repressão política e os desafios impostos pelo regime, o filme retrata a resiliência de Eunice, que enfrentou a perda e ausência de Rubens enquanto criava cinco filhos sozinha e, posteriormente, lidou com o visceral esquecimento trazido pelo Alzheimer. A obra é uma reflexão dura e sensível sobre memória, justiça e a luta contra o silenciamento em períodos autoritários​. 

O filme também estabelece uma conexão direta com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada em 2012 pela ex-presidente Dilma Rousseff, guerrilheira e vítima de tortura no período da ditadura. A CNV teve como objetivo investigar violações de direitos humanos entre 1946 e 1988, resgatando histórias ocultas e dignificando as vítimas, sendo um marco no enfrentamento das feridas, ainda abertas, do passado. Além disso, foi uma tentativa de reconstruir a história de forma transparente e digna para as vitimados, mostrando que uma democracia consolidada exige justiça e reparação. Tanto o filme quanto as recentes descobertas sobre uma possível tentativa de golpe militar em 2022 e 2023 nos forçam a refletir: será que aprendemos com a nossa história?

O Passado Ecoando no Presente

Os eventos de 8 de janeiro de 2023 e as descobertas sobre a organização golpista evidenciam como grupos autoritários continuam ativos e articulados. Assim como Ainda Estou Aqui revela o custo da existência humana perante a repressão, a realidade atual nos lembra que negligenciar a memória histórica abre espaço para regressos graves à democracia. 

A tentativa de apagar e não punir crimes do período ditatorial, reinterpretando-os como  “medidas justificáveis”, não apenas impede a cicatrização, mas cria terreno fértil para que retrocessos democráticos sejam planejados. As movimentações golpistas recentes demonstram como o autoritarismo não é um fantasma, mas sim um perigo real e articulado. Por isso, é preciso seguir em luta, não permitindo que nenhum golpista seja anistiado.

Democracia como Resistência

Assim como a família retratada em Ainda Estou Aqui não desistiu de lutar por justiça, é necessário mobilizar a sociedade para preservar a democracia. O trabalho da Comissão Nacional da Verdade deve servir como inspiração para o que vivemos hoje, é com o  enfrentamento às verdades incômodas que se torna possível evitar que os mesmos erros sejam cometidos.

O Chamado para a Ação

A reflexão trazida pelo filme e pela história da família Paiva nos convoca a tomar uma posição clara: nunca mais tolerar o autoritarismo. É nosso dever lutar por justiça e a CNV deve ser um farol para o hoje: enfrentar o passado é fundamental para garantir que ele não se repita no presente. As ameaças recentes, como os eventos que culminaram nos ataques ás sedes dos Três Poderes, reforçam a importância de resistir ao negacionismo histórico e de punir os responsáveis por atentados à democracia.

O Brasil, que já enfrentou períodos políticos sombrios, precisa reafirmar diariamente seu compromisso com a liberdade e a justiça. Que Ainda Estou Aqui e a força da família Paiva sirvam como um grito coletivo, para que a memória seja um escudo contra qualquer tentativa de declínio e que a força de Eunice Paiva, assim como o legado da CNV, sirvam como inspiração para impedir o retrocesso. Os desafios recentes reforçam a necessidade de resistir ao negacionismo histórico e punir os responsáveis por atentados à democracia. 

Participe da Luta pela Democracia! Assine aqui a petição e fortaleça o movimento:
https://bit.ly/ArquivaPLdaAnistia-Peticao